domingo, 24 de abril de 2011

Três

História estória dos três que se mistura. Que se misturam. Quem é um quem é outro? Quem é uma e quem é outro? Semelhanças e diferenças jogadas no liquidificador da vida, e do destino. Aquele que alguns dizem que não se escolhe.
Um desenrolar enrolado, que não tem fim. Que não teve ainda. O fim  vai sendo escrito, a cada novo encontro, a cada nova atitude, a cada nova música composta, tatuagem feita ou texto publicado.
Encontros, erros, tombos, porres, fumaça, cigarro, chocolate, desilusão ortográfica, gastronômica ou somente a boa e velha que envolve sentimentos.
Aquele, encontro, prometia.

Outono é uma estação duvidosa,  faz frio e calor no mesmo dia. Mangas compridas e regata. Amor e ódio. Saudade e tristeza.
Longe daquilo que a interessava, ela apagava-se do mundo. Ao seu redor, nada parecia ter importância. O contexto onde estivera acostumada, onde vivera o seu sempre, era agora desprezível. Por sua conta. E risco.
Ele consumia-se na ansiedade e nos cigarros. Como causa e efeito. Sua alma tinha formato de clave de sol.  Sozinho nas madrugadas afora, sua voz era sua escrava. Bem como seus dedos, que procuravam por uma nova melodia. Uma que agradasse, que fosse sincera e intensa. Que marcasse.
E ela queria reinventar. Sua vida, seu cabelo, sua casa. Sabia que a mudança era necessária mas não sabia como nem por onde começar. Sentia que faltava as ferramentas. Não adianta ter nas mãos um diamante e não saber lapidá-lo.
 Ele então, naquela noite de outono  cantava solitário pra uma pequena multidão, por amor e não pelo dinheiro. Queria ser ouvido. Ser lembrado, ou não ser esquecido.
Elas o ouviam. Separadamente, cada uma em uma mesa. Uma à frente do palco, prestando atenção em cada acorde tocado no violão e a outra um pouco mais atrás, disfarçadamente encolhida na cadeira.
Três existências completamente diferentes ali estavam, dividiam o mesmo ambiente. E não sabiam. Não sabiam-se.
 A que estava mais ao fundo notou que mais alguém, além deles, sabia a letra daquela canção. Impressionou-se. Aquela era uma canção linda e, quase, desconhecida mas não para eles, os três que ali estavam, no mesmo lugar, no mesmo ar.
 Quem explica esse cordão invisível que une as pessoas? Sim, por que não dá pra contar com a sorte, sair de casa pra comprar pão e encontrar alguém relevante que tomará tanta importância em sua vida e você nem se dará conta, tamanho envolvimento. Deve ter algo que une, e isso eu chamo de cordão invisível. Uma hora você se aproxima, atrai, encontra ou seja lá o que.

Envolvidos pela música e pelo desejo, suas vidas se entrelaçaram. Eram agora como um triângulo, que só existe tendo três. Não dá pra ter um a menos. Não pode, e eles não conseguiam.
Proporção sem tamanho, sem perceber estavam ali, juntos. Apesar de tudo, apesar do resto do mundo.
Até que chegaria o momento em que um deles perguntaria: o que estamos fazendo das nossas vidas?
Mas por que fazer perguntas que não tem respostas? E pior: com quem está a solução?

2 comentários:

  1. Não sei se me senti mais parte do que à parte disso tudo. Só sei que quero participar. Não faço a mínima ideia de que personagem eu seria... ou seria mais correto perguntar: que personagens me seriam?

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  2. Gostei do cordão invisível! Faz todo sentido do mundo!
    Ótimo texto, como sempre!
    Aquele abraço!
    www.segundadose.com

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