quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sábado, parte III

Chega ao fim a história de personagens anônimos.
Sugestões, assim como perguntas, sempre são bem vindas!


A sala de estar era simples e aconchegante.
Não pensou em nada durante o caminho até a casa - foi parar para refletir só quando já estava sentado no sofá. Um bicho de pelúcia, rosa bebê, estava ao seu lado no sofá.
Refez seus passos e lembrou de ter bebido, mais do que o comum, e de ter conversado com alguém.
Sentiu um cheiro forte de café, e em seguida a pessoa com quem havia conversado apareceu com uma xícara cheia daquele liquido quente e essencial, só para ele. Ela tirou o urso, que para ele era um simples brinquedo rosado - já que homens não são bons com, tantos, detalhes. Pede desculpa e diz que o filho ainda não aprendeu a organizar os brinquedos.
Você deve estar se perguntando onde está, o que faz aqui.
Sua imagem me trás um pouco de paz, é uma figura conhecida.
Pouparemos seu cérebro cansado e lento por causa do álcool. Te contarei o ocorrido.
Ela, fiel aos detalhes e a verdade, contou-lhe que os dois beberam no bar, de sempre, e que quando suas lagrimas começaram a cair ela o levou para sua casa, para evitar possíveis problemas. Ele não precisava de mais um.
Quer dizer que esta e sua casa?
Quando saímos do bar estávamos num papo decisivo para eu entender sua situação..
Você vai dormir e tudo está em perfeita harmonia, as coisas nos seus devidos lugares, o amor deitado do lado direito da cama - como de costume. Ao acordar, num fatídico dia qualquer você não tem mais aquele chão seguro aos seus pés. Cadê a vida que estava ali ontem?
Ele termina de beber o café, e com os pensamentos mais em ordem sente-se aliviado.
Nunca havia falado sobre a dor das minhas entranhas a ninguém.
Misteriosa mulher que o leva para casa e ainda serve café. Não confiar por que? Resolveu então falar de detalhes amargurados da sua existência.
Desde que fiquei só passei a ser um homem irreconhecível, transparente. Eu tinha uma vida ativa, gostava de cozinhar e arrumar a casa. Agora a saudade me corrói, diminuiu um pouquinho a cada dia. Acordo e não encontro ninguém ao meu lado na cama, o perfume foi embora, não ando de mãos dadas na rua.
Ela não sabia quem era aquele homem sentado no seu sofá, mas entendia aquele sofrimento. Apenas isso. Achava ele bonito e interessante mesmo fragilizado. Quem teria tido o privilegio de desfrutar de todo aquele amor? e por que não?o que leva uma pessoa a desaparecer de uma vida aparentemente normal e amorosa?
Quando entrei naquele quarto, na primeira vez que te vi, só pensava em provar minha masculinidade. Pra quem eu não sei. Talves para mim mesmo. Falhei grosseiramente.
Eu precisava provar muitas coisas para mim mesmo, para permanecer vivo. E ainda preciso. Creio que essas provas trarão mudanças. Eu necessito.
Concordo que você precisa mudar, dar uma chance a si mesmo. Mas, construir uma mudança em cima de uma mentira pode levar ao fracasso. Será pior ainda..
Não olharei para trás
Mesmo querendo você não deixa de ser você. Mais cedo ou mais tarde o verdadeiro eu vem a tona, por mais que você se esconda.
Ele baixou a cabeça. Precisava pensar. Em tudo. Deixar de ser quem ele realmente era para apagar o passado não daria certo.
Mas, você só vai saber tentando, vivendo.
De súbito, uma porta da casa se abre e dela sai um menino com cara de sono. Ele queria a mamãe.
A hora de sair da residência da sua psicóloga desconhecida, a qual ele nem sabia o nome, chegara.
Agradeceu o café e a paciência e saiu- desta vez sem bater a porta.
Ela pegou o urso de pelúcia cor de rosa e foi deitar com o menino. Deitada, tentou juntar as peças da vida daquele homem. O que ela mais queria na vida era alguém, assim, como ele- mesmo sem saber quem aquele homem amava de verdade assim como ele nunca entenderia por que um menino tem um bicho de pelúcia rosa.
O mundo e colorido
E preto e branco. Ao mesmo tempo.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sábado, parte II

Segue a continuação do texto que eu não sabia como iria começar e continuo sem saber como será o fim. Você pode me ajudar nesta, possível, trilogia. :)


Incompreendido. Insatisfeito. Inquieto. “Quantos ‘is” seriam necessários para defini-lo? Mudar seria preciso mas ele não sabia como.
Sentou e pediu uma bebida forte, sem gelo. O álcool mais do que nunca precisava adormecer sua carne, amenizar o sofrimento e aliviar os pensamentos por alguns instantes.
Com o cabelo completamente diferente da ultima vez que estivera ali, não foi reconhecido pelo dono do estabelecimento. Mas havia alguém ali que o conhecia muito bem, mesmo no escuro e com outro visual. O olhar triste não podia ser escondido.
Ela parou ao lado dele e perguntou se como da outra vez, estava ali não para ouvir.
Ele fez que sim com a cabeça e ela sentou-se ao lado. Tentou não ser desprezível, pois ela era uma das poucas pessoas que queria estar por perto. Mesmo assim ele foi ríspido ao receber um elogio sobre o novo penteado.
posso não ser ninguém para você, para muitos causo destruição, mas o pouco de sentimento que ainda não me foi arrancado com a vida repugnante que levo me diz que você é uma pessoa triste, e precisa de ajuda. E, que você não quer machucar ninguém aqui.
não tente me ajudar, afinal você deve precisar mais do que eu. Nem eu mesmo sei se posso, quanto mais aceitar ajuda de uma desconhecida.
o que há de errado com você?
eu, simplesmente, nasci.
para de bobagem, você deve ser importante para alguém.
por pensar que era indispensável para alguém é que me transformei no que sou hoje. Um nada
a realidade também molda seu caráter. Coisas inevitáveis devem acontecer a você..
coisas inevitáveis e desagradáveis, sempre.
o mundo não para de girar quando não sabemos amar.
como você se atreve em falar de amor?
nada de atrevimento, seus olhos falam o que suas palavras não revelam.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Vazio

Eu preciso aproveitar de verdade
o pouco de claridade que ainda resta em mim.
A profundidade não me trouxe sabedoria
tampouco a ilusão da felicidade.
Um rosto sério, pareces transcender
o olhar na direção do horizonte livre
procurando pelo vazio, por quê não sabe.
Qual? O que?
Permaneço na interminável busca pelo desconhecido
pelo eterno vazio que me inspira teu caos
por tudo o que eu nem sei dizer
nem defino o corpo vazio
O abstrato dos dias, os pedaços caídos no chão.
Tantas partes
de um mesmo coração
Que lacuna é essa
é o estranho no canto da sala, sou eu
que te perdi.