segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Vaidade(s)

A chuva que caía podia ser inspiradora, vista ali do alto da sacada do apartamento. Não lembrava-se da última vez em que tinha tomado um banho de chuva. Daqueles que purificam, revigoram. A falsa sensação de liberdade que a água do chuveiro proporcionava todos os dias nem se comparava com a água vinda dos céus. Ou do céu, vai saber..

A barra de chocolate não conseguia camuflar-se entre os pacotes de arroz e macarrão no armário. Preocupava-se com os quilos a mais, que nem fariam tanta diferença. Não os tinha, na realidade. Deliciar-se com o chocolate feria a vaidade. Mas será que tanto cuidado com a beleza era somente preocupação consigo ou era querer parecer bonita aos olhos alheios?
Por quê nao comé-lo, então?

Tinha fixação por esmalte vermelho. Achava lindíssimo. Sempre que ia à loja de cosméticos comprava no mínimo um esmalte vermelho. Mas suas unhas nunca foram coloridas. Um branco clarinho, Renda, no máximo. “Não tenho mais idade pra essas coisas”, afirmava.
E todos os esmaltes vermelhos ficavam guardados numa caixa no armário do banheiro. Comprava e os colocava lá. Nunca ousou testar a cor nas unhas.

Passou grande parte do seu tempo assim: sem sentir prazer gastronômico ao comer uma barra de chocolate, não ousava pintar as unhas da cor que tanto gostava. E não tomava banho de chuva. E tantas outra coisas, outros prazeres que ela mesmo se privava.
Desperdício de inspiração. Fechou a porta da sacada e foi dormir. Enchuta, com fome de chocolate e de unhas brancas.

“Diante dessa profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.”
Essa podia ser a sua “sorte de todo dia”, escrita por Martha Medeiros.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Necessidade material

Assistindo a um programa de televisão (abraço pras minhas férias que me proporcionam momentos assim) três mulheres e um homem discutiam, dentre outros assuntos, sobre necessidades materiais, com uma pitada de consumismo. E então surgiu a pergunta: “quais os cinco objetos que você não consegue viver sem?”

Imediatamente eu respondi três coisas: o óculus(sou míope até debaixo d`água), algo pra prender o cabelo, a vulgarmente chamada de piranha, que incomoda um bocado agora no verão e o computador, meu fiel companheiro. Eu o amo mesmo sem internet hahaha.
Influenciada pelas mulheres do programa, de TV, pensei no cartão de crédito – que é bem útil(consumismo à parte) e pode quebrar vários galhos. Mas eu não lembraria dele se não fosse por elas.
O homem, que também estava ali no programa, falou da imagem de uma santa que leva sempre consigo.

Como uma mulher normal, carrego vários objetos na minha bolsa. Eles não saem de lá e eu não saio sem eles então eles deveriam ser fundamentais, né?
O mais importante desses objetos, da bolsa, talvez seja uma caneta. Tecnologia pode falhar, pifar, não ter sinal, acabar a bateria. A caneta permace soberana nesse quesito. E na falta de ter onde escrever utiliza-se o corpo(que atire a primeira pedra quem nunca escreveu um lembrete na mão).

E pra você, quais são os objetos que sem os quais você não viveria?

domingo, 9 de janeiro de 2011

Fartura

-Será que é exagero? O que você acha?
-Extravagância.
-Ai, não quero pensar em arrependimento..
-Na hora você achou digno. Achou que precisava mesmo de tudo aquilo. Foi lá e fez.
-Pensei que necessitava de muito pra me satisfazer. Esbanjar, sabe? Aquilo que você queria muito quando era criança e não podia por que sua mãe nao deixava. É quase isso.
-Liberdade permite essas coisas, de certa forma essas luxúrias hahaha.
-Foi mais forte que eu. Essa variedade de cores, tamanho, consistência.
-E sabor, né.
-Claro! gosto é fundamental.
-Achei que não daria conta, que não caberia.
-Você sempre consegue dar um jeitinho que eu sei. Mas parece que quer sempre mais..
-Insasiável?
-Ui hahaha
-Não pensei nas consequências. Tava com vontade. Com várias vontades..
-Se empolgou logo de cara
-Sai pegando mesmo!
-E esse cheiro irresistível, hein?
-Tentador.
-Quanto mais perto se chega mais vontade dá.
-Eu gosto daqui, desse lugar. É arejado e o atendimento é bom.
-As opções então, nem sem fala.
-Precisamos de uma coca-cola pra digerir tudo isso. Você aceita?
-Não consigo engolir mais nada. Essa churrascaria vai me deixar sem fome durante boas horas.
-Sem esquecer do buffet livre.
-É!
-Não quer nem um cafézinho?
-Não, obrigada.