terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sepulcral

Eram sete horas, ela girou a torneira, pendurou a toalha e escolheu um sabonete de erva doce. Trancou a porta, apesar de não ter ninguém em casa, era um hábito - como se fosse um isolamento.
Colocou a mão na água, sentiu que a temperatura estava ideal. Molhou primeiramente os pés, foi sentando vagarosamente.
Parou e ficou ali parada, com a água na direção do peito. Olhava para o nada.
A banheira era uma espécie de divã. Gostava de ficar ali, pensando na vida, ou não pensando em nada, enquanto os dedos ficavam murchos.
O silêncio sepulcral tomava conta do banheiro, e de toda a casa.
Ela olhou para a tomada, para o secador de cabelo e para a lamina de barbear.
Pensava na dor. Na falta e no excesso.
Até que o silencio foi interrompido pelos chamados de sua filha, clamando pela mãe, que acabara de entrar em casa.
Saiu rapidamente da água, tirou a tampa do ralo, vestiu a roupa e foi logo ao encontro da menina, que resolvera desculpar a mãe e voltara para o lar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Vinte e três primaveras.

Hoje, especialmente, não usarei falsas palavras pra demonstrar uma alegria profundamente amarga.
Escrevo pra dizer que não esqueci, por que tem coisa que não se esquece- por mais difícil que seja.
No fim, "nada mais importa".




"Sleight of hand and twist of fate/on a bed of nails she makes me wait/and I wait without you"

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

As luas de janeiro

Não há dúvidas de que a lua possui uma beleza incomum, privilegiada, encantadora. Especialmente a cheia.
Lembro daquela sexta-feira de janeiro – calor, começo de noite, aquela lua gigante, que mais parecia um sol, amarelada assim que surgiu. Durante todo o trajeto até a praia ela nos acompanhou no céu. Visão privilegiada - parecia que estávamos indo até ela. Esse dia (noite?) ficou marcado na lembrança.

Tempo decorrido, mês de janeiro, 2010. Sábado.
Lua cheia. Linda, grande e amarelada, como naquele outro dia.
A noite chega, ela vai ficando branquinha, e ilumina a escuridão. A nossa escuridão. É sensacional olhar as horas no relógio de ponteiro à noite, na praia, com a iluminação do luar.

As luas (cheias) de janeiro marcam, impressionam, e me fazem refletir sobre a grandeza da vida, sobre o desconhecido.
A imensidão e o nada.