Não consegui dormir. Tava calor, mesmo com o ventilador
ligado na velocidade mais alta. A cama grande não estava tão vazia assim. Talvez
seja por isso: te esperei tanto, sonhei tanto contigo deitada ao meu lado, que
quando fui surpreendida com isso, abalei. Por que eu te senti distante, mesmo
carinhosa. Teu cheiro não era o teu.
Virei-me várias vezes, de um lado para outro, na cama. Por receio
de te acordar, pensei em ir deitar no sofá da sala, mas ia estar muito calor e
eu queria o mínimo de conforto para poder acordar bem no dia seguinte e ir
fazer prova.
O que os braços cruzados tentam esconder, na verdade, é o
coração, e não o braço. Por que este já não bate nem apanha, Arnaldo.
Acordo de manhã cedo e quero uma coisa e quando vou dormir à
noite quase tudo mudou – e, no fim, eu realmente não sei o que fazer. É uma
responsabilidade grande, eu, e somente eu, preciso decidir as coisas, mas eu
queria algo que me dissesse, como nos jogos de tabuleiro, “avance duas casas”
ou “fique uma rodada no mesmo lugar”.
Talvez eu precise deixar o tempo passar, as coisas
acontecerem sozinhas, com esperança de que elas dêem certo, de alguma maneira. Mas
falta tempo, e sobra falta.
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