terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sepulcral

Eram sete horas, ela girou a torneira, pendurou a toalha e escolheu um sabonete de erva doce. Trancou a porta, apesar de não ter ninguém em casa, era um hábito - como se fosse um isolamento.
Colocou a mão na água, sentiu que a temperatura estava ideal. Molhou primeiramente os pés, foi sentando vagarosamente.
Parou e ficou ali parada, com a água na direção do peito. Olhava para o nada.
A banheira era uma espécie de divã. Gostava de ficar ali, pensando na vida, ou não pensando em nada, enquanto os dedos ficavam murchos.
O silêncio sepulcral tomava conta do banheiro, e de toda a casa.
Ela olhou para a tomada, para o secador de cabelo e para a lamina de barbear.
Pensava na dor. Na falta e no excesso.
Até que o silencio foi interrompido pelos chamados de sua filha, clamando pela mãe, que acabara de entrar em casa.
Saiu rapidamente da água, tirou a tampa do ralo, vestiu a roupa e foi logo ao encontro da menina, que resolvera desculpar a mãe e voltara para o lar.

2 comentários:

  1. Sensibilidade e suavidade moldados por uma ortografia excelente. Muito boa, Mari. :D

    @MassaG

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  2. Muito bom cara....
    belas palavras de uma bela pessoa..
    ;D

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