sábado, 26 de fevereiro de 2011

O menino da mochila

Usava sempre aquela mochila simples e azul desbotada pelo desgaste do tempo. Se ela tivesse vida com certeza usaria um creme anti rugas. Por mais que a mãe insistisse em compar-lhe uma mochila nova ele a contrariava: - Gosto dessa, combina comigo. O menino também era simples.

Passava perto do mar todos os dias para ir à aula. Bom observador que era, deixava sempre que a maresia o inspirasse.
Talves por isso escrevia tanto durante as aulas.
Porque vinha inspirado.
No caderno que ele tanto cuidava haviam tantas palavras soltas, citações e desabafos mas ninguém podia olhar. Tratava com raridade e uma ponta de timidez.Só ele e a mochila azul o possuíam.

Por falta de ter com quem falar escrevia, diziam alguns. Vendia até uma imagem de garoto distraído – que vive rabiscando papel. Ah, como estavam enganados.
Os colegas da aula até perguntavam e ficavam curiosos pelo o que ele tanto escrevia.
–É que estou sempre pensando. E não posso deixar o pensamento fugir. Escrever foi a maneira que encontrei de prendé-lo.

Aqueles ali não eram os seus amigos. Os seus verdadeiros amigos. Até gostava bastante de alguns mas os seus de verdade estavam perto do mar. Não desse mar por qual ele passava todos os dias. Um outro mar. Mais azul, com mais ondas.
E com mais atenção.
E mais amor.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Diário de um perdedor

Eu preciso de uma bebida forte mas tá calor demais pra tomar um café e eu indisposto o suficiente pra não aguentar os efeitos do álcool.
Resolvi então acender um cigarro. Fui até a sacada e vi umas estrelas lindas. que nada me diziam. Soprei toda a fumaça de nicotina pra elas, afim de que ficassem encobertas. Não consegui.

Nenhum canal de TV consegue me distrair. Nem pra aniquilar um pouco dos meus neurônios ela serve.
O cheiro do cigarro me encomoda profundamente. Abro o chuveiro e deixo as gotas d`água me encharcarem. Uma pena que elas não lavem a alma.
A embalagem de xampu podia agora ser um microfone para que eu contasse o que sinto com ritmo, melodia. Poucos entederiam, algumas até achariam bonito mas quem realmente prestasse atenção me compreenderia mas não saberia como me ajudar.
Eu que vivo dando berros silenciosos. E enlouquecedores. Não me faria entendido.

Sinto que, até hoje, minha história foi escrita a lápis. Que qualquer um com uma borracha roubaria de mim a parte que bem entendesse num simples gesto de apagar. Eu que tenho tantas canetas espalhadas pela casa.
Sou um perdedor até no sentido figurado de apagar, pois não tenho uma borracha. E não sei onde conseguir uma. Também não consigo mudar as coisas, esquecer a parte ruim e destacar as felizes.
Os outros me conseguem.
Eu não consigo-me.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Buscando inspiração

Entrou no carro e saiu dirigindo sem rumo. Assim, de súbito. Sem falar nada pra ninguém. Se é que ele tinha a quem comunicar.
Era janeiro. Comecinho do mês. Todas aquelas promessas de ano novo o tiravam do sério. Promessas alheias, pois ele não acreditava nessas coisas. E, a essa altura ele fazia questão de ignorar o calendário.
Força nenhuma o seguraria ali, naquele lugar, naquela mesma casa com aquela decoração, aqueles quadros.
Ele se resumia em uma palavra: agonia. Não possuía a receita para aliviá-la mas acreditava no poder do vento batendo no rosto enquanto dirigia em alta velocidade. A janela aberta e uns 110 ou 120 quilômetros eram suficientes.

5 horas da manhã. A rodovia estava deserta a uma hora daquelas. Sabia que o movimento aumentaria logo mais, com as pessoas se dirigindo a praia. Fazia muito calor.
Tentava enganar-se, achando que não tinha um rumo certo, que apenas estava pegando um ar enquanto andava de carro. Seus movimentos iam na direção do aeroporto. Ele querendo ou não. Evittando ou não. Lá no fundo ele torcia para que nao fosse tarde demais.
As boas novas não podiam ser boatos. Ela estaria de volta, sim. A dúvida era se ela havia voltado pra ele, por causa dele. Não queria lembrar o esquecido. Queria uma página em branco e os dois como personagens principais daquela história que só eles poderiam colocar um ponto final.
Mal podia acreditar que dali alguns instantes ela estaria novamente perto dela, que ele a veria novamente. Não conseguiu conter o riso amedrontado

Tinha noção de que sua saudade havia transformado-se em fixaxão. Quase doentia. Com tanta gente pelas ruas, nenhuma fazia diferença. Todas passaram a ser indiferentes, quase invisíveis.
Não, não poderia acabar assim. Um carimbo no passaporte não seria capaz de por fim em tudo o que tinham construido. Uma fortaleza.
A cada metro que se aproximava do aeroporto ficava mais atormentado.
Não preocupou-se com a aparência. Desceu do carro com a camisa amassada e o cabelo bagunçado. Um milhão de pessoas ali não seriam suficientes para que ele as notasse. O aeroporto parecia vazio aos seus olhos. Que procuravam por ela. E por mais ninguém.
Então surge ela, puxando sua mala de rodinhas. Do mesmo jeitinho tímido, o mesmo corte de cabelo, a mesma sombra no sorriso. Um sorriso só para ele, e mais ninguém.

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Tive a (infeliz) ideia de escrever um texto com inspiração nos Engenheiros do Hawaai, ou melhor, nas músicas deles. Em meio a um repertório tão extenso como escolher algumas músicas que pudessem resultar num texto?
Resolvi então escolher três pessoas conhecidas minhas e super fãs da banda. Entrei num site de letras de músicas, que para minha sorte estão enumeradas, e pedi que essas pessoas escolhessem dois números cada uma. Usei esses números pra selecionar as músicas. A aleatoriedade e a numeração do site, mais as escolhas dessas pessoas resultaram na inspiração bruta do texto.
Prefiro não revelar o nome das seis canções. Algumas estão bem perceptíves, principalmente pra quem curte a banda e conhece as letras.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Livro: Segunda Dose

Hoje eu quero indicar um livro. O romance chama-se Segunda Dose.


Um triângulo, quase quadrado, amoroso repleto de paixão, vícios, compromissos, trabalho, e, obviamente amor. É o tipo de livro em que você quer logo virar a página e saber como a narrativa vai se desenrrolar, saber o que vai acontecer. Sim, desperta curiosidade.
As mulheres personagens do livro são bem reais, dessas que se encontra por aí. Bonitas, problemáticas, obssessivas. O homem, apesar de tudo, é atrapalhado principalmente quando o assunto é sentimento.(mais uma proximidade com a realidade)

Eu tive a oportunidade de conhecer o Kelvim, autor do livro. Esse é o primeiro(de muitos!) livro dele.
Desejo muito sucesso na carreira de escritor, tamo junto, cara! Bora fazer literatura =D

Nesse site: http://www.segundadose.com/ vocês podem comprar o livro e acompanhar as outras coisas que ele escreve.