quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

pensamento alto

Hoje escolhi sentar perto da janela. São 3h da manhã, não tem lua mas daqui do sofá posso ver o céu.
A cidade calada, nenhum carro na avenida.
Vejo as luzes da cidade algumas piscam ao longe.
Será que alguém me ouviria?
Acabei de fazer algo por alguém que a tempos não fazia. Esse mundo tecnológico não é de todo confiável. Você manda um recadinho e se não há resposta não se sabe se realmente chegou.
Escreve-se para olhos invisíveis. Olhos que, muitas vezes, não querem nem saber.
Eu seria feliz se os meus pensamentos se tornassem realidade?
O pior é: como torna-los?de que jeito?
Quando a complexidade do poder existir torna- se um impedimento para realizações, oq fazer?como agir?
E eu nem sei se (te) quero.


Feliz ano novo

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Café da manhã

Ele tomava banho enquanto ela preparava o café da manha para eles.
Não fazia sol naquela manha cinza e fria, lá fora. O clima dentro de casa era agradável para ficar de meias.
- Ouvi barulho lá do banheiro, o que você está aprontando?
- Bom dia. Estou preparando nosso café da manha.
Ele abraçou-a pelas costas pois ela estava virada para a pia fazendo a massa dos waffles. Ela pode sentir o cheiro de banho tomado dele e dar um beijo na cabeça com cabelos úmidos.
- Você gosta de café com açúcar?
- Gosto, mas não muito doce.
- Fiz waffles pra gente, espero que tenham ficado bons. Não tenho muita prática com a medida da farinha.
- Eles estão ótimos! segurou na mão dela e sorriu.
Aquele gesto de carinho era uma grandiosidade visto que ele não costumava praticar o amor por aí.
- Há tanto tempo não recebo um mimo que nem sei se sou digno de..
- Como assim? perguntou ela
- Você me recebeu em sua casa, me ouviu teve paciência comigo e tudo isso com sinceridade. As pessoas não me tratam desse jeito, muito pelo contrário..
- Deve ser o ar de superioridade que você transmite.
- Não sou acessível?
- Até onde você se deixar ser?
Na noite anterior aos waflles eles haviam conversado durante um bom tempo no sofá da sala.
Dela.
Cazuza conta melhor do que eu essa parte: “Quando a gente conversa contando casos, besteiras. Tanta coisa em comum deixando escapar segredos E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo, que medo”
Ela aproximou-se dele, segurou na mão e começou a fazer carinhos delicados e a brincar com os dedos dele.
Beijaram-se lentamente.
Sem pudor, sem malicias, com toda o carinho que pode existir.
Passava da meia noite e o sono apareceu.
Ele, com a cabeça encostada no sofá, aparência cansada.
- Você quer dormir aqui?
- Mas..eu não..
Ela interrompeu-lhe a fala com um beijo
- dormir. Tem lugar pra você aqui.
- É, tem o sofá.
- Na minha cama tem espaço suficiente pra nós dois.
- Você tem certeza? Não se importa?
- Não. Vai ser como se estivéssemos sentados aqui, a única diferença é que estaremos confortavelmente deitados.
Ele deitou no lado da parede.
Ela foi depois. Apagou as luzes, fechou as cortinas e deixou apenas a luz da cabeceira acesa.
Virou-se de lado na cama e ficou a olhá-lo.
Ele sorriu um sorriso envergonhado, sentindo-se um pouco intruso ali.
Ela então encostou a cabeça no ombro ele, mãos dadas e a outra mão dela a acariciar-lhe os cabelos.
- Feche os olhos e tente dormir.
O cheiro dela fazia ele se sentir incrivelmente bem, por menor que fosse o tempo que o sentisse, por pouco que a conhecia. Um cheiro bom, do bem. De fazer bem.
Aquele jeito envolvente sem ser invasor o encantou. Era o que ele precisava. Pra pegar no sono envolvido numa mulher.
Quando ele adormeceu ela deu um sorrisinho, virou-se para o outro lado, puxou o edredom e dormiu.
- Pode parecer egoísmo mas me pergunto por que você esta agindo desse jeito comigo. Por que esta fazendo tudo isso pra mim?
- Quero deixar claro que não tenho nenhum interesse maior agindo dessa maneira contigo.
- Não, não! Desculpe se pareceu que eu quis dizer isso. Longe de mim! É que..
- Como você se sente?
- Me sinto vivo! Tive varias mulheres nessa vida. Na real, nenhuma delas foi realmente minha. E essa sua sinceridade ate me assusta.
- Eu quero que você se sinta bem, ao menos um pouco melhor do que quando chegou aqui.
- Me sinto como uma pessoa de verdade! com carne, osso,pele, olhos e boca! Você me deu um sopro de vida!
Ela sorriu puramente, com um ar de satisfação.
- Tão bom transmitir e pode ser compreendida (!)

domingo, 24 de outubro de 2010

Diálogo racional dos objetos

O lápis e o garfo conversavam. Em tempos de eleição até eles falavam de assuntos ligados a sociedade.
- O que seria dos estudantes se não fosse a escola, a educação, e eu(!) por tabela?diz o lápis
- Ninguém aprende de barriga vazia. Se não há comida não tem como, meu querido.
Todo o resto fica em segundo plano. afirma o lápis.
- Então quer dizer que você pensa que um prato de comida é o suficiente? Que os problemas serão resolvidos se fosse tiver o que comer?
- Suficiente sim. Claro que não somente isso. Mas sem isso o que seria?
- E sem educação, o que seria?
- Seria irracional. Sem um futuro digno, se posso dizer assim..
- Como animais. Que vivem, ou melhor, sobrevivem tendo o que comer apenas. Se bem que tem muita gente por aí que..
- Lápis, você é o “alimento” da inteligência. Eu sou o alimento físico.
- Ninguém vive sem a gente, falou o lápis.
- Sem você até vai, agora sem mim..
- Ah não! Novamente essa discussão de importâncias. Você é um cabeça dura!
- Se nem os seres humanos, racionais, entram em acordo como nós, meros objetos criaremos um novo dogma social ‘alimento-educacional - você depende disso!’
- Que acomodado, garfo!
- Você quer discutir infinitamente, é isso? Por que não simplesmente aceita o fato de sermos usados..
- Mesmo que eu quisesse mudar algo, me sacrificar por um bem maior, o apontador não concordaria com minha intenção suicida-salvadora.
- Olhe por outro ângulo. Somos indispensáveis. Como viver sem ter o que comer e sem o mínimo de educação? Poderíamos ser como o cartão de crédito que faz muitos se endividar, ficarem depressivos, compulsivos ou muitas vezes somente ficar esquecido dentro de uma carteira. Somos fundamentais..
- Ou se fossemos como a bebida, que pode causar tanta destruição se não for usada com moderação. Ela pode ajudar as pessoas a esquecer dos problemas por alguns instantes, mas causará algum sintoma negativo depois. Já se alguém me usar em demasia o máximo que pode ter é uma congestão.
Risos (!)
- Gosto do fato de sermos indispensáveis. Pensando assim, até parece mais fácil, diz o lápis. Mesmo não sendo..
- Basta que nos usem. Somos a primeira ferramenta de uma mudança comportamental humana que não podemos começar sozinhos.
- Será?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Nunca tem ninguém conhecido no ônibus ao lado

Ela pegava o mesmo ônibus todos os dias, no mesmo ponto, não na mesma hora, pois ele se atrasava de vez em quando - o trânsito podia transforma-se no caos a qualquer hora do dia. E, como em todos os outros dias a esperança vinha com o ônibus.
Sempre sonhou com uma vida melhor, um emprego mais bem remunerado, uma reforma na casa, roupas mais bonitas. Mas não era do tipo que reclamava, ao contrário, contentava-se com o que tinha e fazia questão de agradecer a Deus todos os dias.
Estava usando botas bem fechadas, por cima da calça chegando até metade da canela. E também um lenço no pescoço xadrez afim de proteger o pescoço. Qualquer ventinho era suficiente para fazer sua garganta doer. Nos lábios, baton rosa claro, a cor da moda.
Não necessitava de boas vestes e de assessórios para designar o seu trabalho, mas sempre procurava arrumar-se, de uma maneira não muito chamativa. Gostava de uma boa aparência.
165. O ônibus vinha apressadamente cortando o horizonte.
Vai até a beira da calçada e faz sinal com a mão para que o ônibus pare.
Quando ele se aproxima, passa por cima de uma poça d’água, acumulada pela chuva da noite anterior, e a respinga. Nas pernas.
Por sorte não havia barro mas agora sua calça e suas botas estavam molhadas.
Não podia mais sentir o seu cheiro, de banho tomado com sabonete de erva doce, sentia apenas o odor da água da poça. Por menor que fosse o cheiro.
Estava com raiva, e com vergonha. O motorista nem pra pedir desculpas. “Essas coisas só acontecem comigo!” resmungava durante o trajeto. “Maldita poça.”
A luz amarela pisca e o vermelho dominador faz com que os carros, e os ônibus, parem do semáforo.
Ela olha pela janela e vê um ônibus aproximar-se do seu para também parar. “Nunca vejo ninguém conhecido parado no ônibus do lado” pensou com seus botões.
De repente alguém no outro ônibus abana, dá tchau com a mão. Também sorria. Parecia olhar na sua direção, já que o seu ônibus não estava muito cheio e as pessoas dali não pareciam olhar naquela direção.
Olha novamente e vê o abano, incessante. E um sorriso daquele de mostrar todos os dentes. “Será que é pra mim?”
Chega a vez do verde e o ônibus acelera.Ela levanta-se, puxa a cordinha pois era chegada a hora de saltar.
Desce do ônibus sem olhar pros lados. Sem saber o motivo, queria evitar aquele ônibus que estava ao lado.
Caminha alguns passos na rua quando depara-se com um bilhete colado num poste: ‘bom dia, água do dia.”

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Quem?

Preparo um café. Morno. Como tudo nos últimos tempos - nem quente nem frio. Morno e medíocre.
Fico parada olhando o vazio, o nada que parece ocupar um lugar.
Revolto-me com o (des)necessário.
A caneta sem tinta bem como a impressora que só tem servido para acumular pó.
Não há comunicação. Como se as palavras criassem distanciamento.
O entregador de água engarrafada trouxe consigo os votos de “boa semana!”.
Ele cheirava a cachaça. E a semana mal começou..
Vícios. Como hoje é um dia qualquer, por que não?
Nem as lembranças boas motivam a um despertar alegre, com um salto da cama e um “bom dia, sol”. O cinza predomina.
Não me reconheço.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ah, vida real

- A senhora está de quantos meses?
- Vinte e oito semanas. Precisamente.
- E já sabe o sexo?
- Uma menina. Vai se chamar Ágata.
- Nossa, que bonito!
- Eu não gostei. Eu e meu marido tínhamos um trato. Se fosse menina ele escolheria o nome e se fosse menino eu decidiria. Então ele acabou ganhando.
- Gosto do nome. Lembra a escritora Ágata Christie.

Silêncio.
A futura mãe ficou com a informação na mente, não sabia quem era aquela escritora. E, quem havia feito as perguntas a gestante, não querendo menosprezá-la, mas achava uma tremenda besteira concordar com o marido naquele ponto. Nome é pra sempre.

Bem que aqui poderia ter uma musiquinha, né? Sei lá, um rádio.
Ficaria mais animado. Menos... tenso.

- O nome tem algum significado?
- Que nome, mulher?
- Da nossa filha.
- Tem um significado relevante.
- E por que você nunca comentou nada? Não explicou sua escolha
- Você poderia ter me dito que não gostou do nome.
- Mas eu gostei!
- Não é o que seus olhos me dizem...
- Simplesmente aceitei sua escolha, tínhamos um trato.

A mãe vai ate uma livraria e pede todos os livros de Ágata Christie.
- É uma bailarina ou um jogador? perguntou a atendente.
- Uma bailarina.
Havia bons motivos pra comprar, e ler, os livros. O principal estava do lado de dentro.

Cansado de tanto olhar aquela pedra azul o pai, finalmente, toma uma decisão. Se vendesse a pedra conseguiria muito dinheiro. Mesmo sendo tentador, não se arrependeria da escolha feita. O presente ficaria marcado na eternidade.
- Estou ciente de que esta é uma pedra valiosa, tome muito cuidado ao lapidá-la.

No dia do nascimento do bebê o pai presenteou mãe e filha com um pingente azul de Ágata, a tão valiosa pedra azul.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sábado, parte III

Chega ao fim a história de personagens anônimos.
Sugestões, assim como perguntas, sempre são bem vindas!


A sala de estar era simples e aconchegante.
Não pensou em nada durante o caminho até a casa - foi parar para refletir só quando já estava sentado no sofá. Um bicho de pelúcia, rosa bebê, estava ao seu lado no sofá.
Refez seus passos e lembrou de ter bebido, mais do que o comum, e de ter conversado com alguém.
Sentiu um cheiro forte de café, e em seguida a pessoa com quem havia conversado apareceu com uma xícara cheia daquele liquido quente e essencial, só para ele. Ela tirou o urso, que para ele era um simples brinquedo rosado - já que homens não são bons com, tantos, detalhes. Pede desculpa e diz que o filho ainda não aprendeu a organizar os brinquedos.
Você deve estar se perguntando onde está, o que faz aqui.
Sua imagem me trás um pouco de paz, é uma figura conhecida.
Pouparemos seu cérebro cansado e lento por causa do álcool. Te contarei o ocorrido.
Ela, fiel aos detalhes e a verdade, contou-lhe que os dois beberam no bar, de sempre, e que quando suas lagrimas começaram a cair ela o levou para sua casa, para evitar possíveis problemas. Ele não precisava de mais um.
Quer dizer que esta e sua casa?
Quando saímos do bar estávamos num papo decisivo para eu entender sua situação..
Você vai dormir e tudo está em perfeita harmonia, as coisas nos seus devidos lugares, o amor deitado do lado direito da cama - como de costume. Ao acordar, num fatídico dia qualquer você não tem mais aquele chão seguro aos seus pés. Cadê a vida que estava ali ontem?
Ele termina de beber o café, e com os pensamentos mais em ordem sente-se aliviado.
Nunca havia falado sobre a dor das minhas entranhas a ninguém.
Misteriosa mulher que o leva para casa e ainda serve café. Não confiar por que? Resolveu então falar de detalhes amargurados da sua existência.
Desde que fiquei só passei a ser um homem irreconhecível, transparente. Eu tinha uma vida ativa, gostava de cozinhar e arrumar a casa. Agora a saudade me corrói, diminuiu um pouquinho a cada dia. Acordo e não encontro ninguém ao meu lado na cama, o perfume foi embora, não ando de mãos dadas na rua.
Ela não sabia quem era aquele homem sentado no seu sofá, mas entendia aquele sofrimento. Apenas isso. Achava ele bonito e interessante mesmo fragilizado. Quem teria tido o privilegio de desfrutar de todo aquele amor? e por que não?o que leva uma pessoa a desaparecer de uma vida aparentemente normal e amorosa?
Quando entrei naquele quarto, na primeira vez que te vi, só pensava em provar minha masculinidade. Pra quem eu não sei. Talves para mim mesmo. Falhei grosseiramente.
Eu precisava provar muitas coisas para mim mesmo, para permanecer vivo. E ainda preciso. Creio que essas provas trarão mudanças. Eu necessito.
Concordo que você precisa mudar, dar uma chance a si mesmo. Mas, construir uma mudança em cima de uma mentira pode levar ao fracasso. Será pior ainda..
Não olharei para trás
Mesmo querendo você não deixa de ser você. Mais cedo ou mais tarde o verdadeiro eu vem a tona, por mais que você se esconda.
Ele baixou a cabeça. Precisava pensar. Em tudo. Deixar de ser quem ele realmente era para apagar o passado não daria certo.
Mas, você só vai saber tentando, vivendo.
De súbito, uma porta da casa se abre e dela sai um menino com cara de sono. Ele queria a mamãe.
A hora de sair da residência da sua psicóloga desconhecida, a qual ele nem sabia o nome, chegara.
Agradeceu o café e a paciência e saiu- desta vez sem bater a porta.
Ela pegou o urso de pelúcia cor de rosa e foi deitar com o menino. Deitada, tentou juntar as peças da vida daquele homem. O que ela mais queria na vida era alguém, assim, como ele- mesmo sem saber quem aquele homem amava de verdade assim como ele nunca entenderia por que um menino tem um bicho de pelúcia rosa.
O mundo e colorido
E preto e branco. Ao mesmo tempo.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sábado, parte II

Segue a continuação do texto que eu não sabia como iria começar e continuo sem saber como será o fim. Você pode me ajudar nesta, possível, trilogia. :)


Incompreendido. Insatisfeito. Inquieto. “Quantos ‘is” seriam necessários para defini-lo? Mudar seria preciso mas ele não sabia como.
Sentou e pediu uma bebida forte, sem gelo. O álcool mais do que nunca precisava adormecer sua carne, amenizar o sofrimento e aliviar os pensamentos por alguns instantes.
Com o cabelo completamente diferente da ultima vez que estivera ali, não foi reconhecido pelo dono do estabelecimento. Mas havia alguém ali que o conhecia muito bem, mesmo no escuro e com outro visual. O olhar triste não podia ser escondido.
Ela parou ao lado dele e perguntou se como da outra vez, estava ali não para ouvir.
Ele fez que sim com a cabeça e ela sentou-se ao lado. Tentou não ser desprezível, pois ela era uma das poucas pessoas que queria estar por perto. Mesmo assim ele foi ríspido ao receber um elogio sobre o novo penteado.
posso não ser ninguém para você, para muitos causo destruição, mas o pouco de sentimento que ainda não me foi arrancado com a vida repugnante que levo me diz que você é uma pessoa triste, e precisa de ajuda. E, que você não quer machucar ninguém aqui.
não tente me ajudar, afinal você deve precisar mais do que eu. Nem eu mesmo sei se posso, quanto mais aceitar ajuda de uma desconhecida.
o que há de errado com você?
eu, simplesmente, nasci.
para de bobagem, você deve ser importante para alguém.
por pensar que era indispensável para alguém é que me transformei no que sou hoje. Um nada
a realidade também molda seu caráter. Coisas inevitáveis devem acontecer a você..
coisas inevitáveis e desagradáveis, sempre.
o mundo não para de girar quando não sabemos amar.
como você se atreve em falar de amor?
nada de atrevimento, seus olhos falam o que suas palavras não revelam.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Vazio

Eu preciso aproveitar de verdade
o pouco de claridade que ainda resta em mim.
A profundidade não me trouxe sabedoria
tampouco a ilusão da felicidade.
Um rosto sério, pareces transcender
o olhar na direção do horizonte livre
procurando pelo vazio, por quê não sabe.
Qual? O que?
Permaneço na interminável busca pelo desconhecido
pelo eterno vazio que me inspira teu caos
por tudo o que eu nem sei dizer
nem defino o corpo vazio
O abstrato dos dias, os pedaços caídos no chão.
Tantas partes
de um mesmo coração
Que lacuna é essa
é o estranho no canto da sala, sou eu
que te perdi.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Sábado

Tantos eram os arrependimentos por ter estado lá. Havia uma revolução interna - precisava ser diferente, fazer diferente. A mudança viria com os novos fios de cabelo?
Lugar imundo, fétido. Apenas seu asco se enobrecia ali. Desfrutar daquele prazer carnal não o faria mais homem, nem mais experiente. O faria, possivelmente, mais bruto.
A ânsia o dominava. Sua beleza minimizada na timidez de quem era um novato ali.
Pediu a ela que não falasse uma palavra sequer. Não tinha esse direito e ele não estava ali para ouvir.
Ela, contrária ao pedido que soou como ordem, disse que não tinha direito a nada mesmo, seria algo a menos pra quem não tinha quase nada. Não sabia ela que tão poucas palavras ocasionariam tantas mudanças.
Por um instante ele perdeu o conhecimento elementar.
Deu a ultima tragada no cigarro e jogou uns trocados em cima da cama. Pensou na pobre criatura que ali estava. O que fez para merecer aquela vida cruel?ou será que ela gostava daquilo? Faltou-lhe coragem, mas por outro lado sobraria orgulho. Bateu a porta e saiu. Sentiu-se no direito de não precisar dar satisfações a ela, que ficou do lado de dentro sem entender quase nada - como de costume.
Ei, você não pode sair assim sem pagar!
Deixei o dinheiro lá em cima, no quarto.
Aqui as coisas não funcionam assim. É a mim que você tem que pagar e não me interessa o que você fez lá dentro. Porém, confesso que fiquei curioso, afinal você foi mais rápido do que o costume.
Pouco me interessa o senhor e suas dúvidas.
Virou às costas e saiu.
Antes de por o primeiro pé fora da porta um copo voa, não tão misteriosamente, em sua direção.
Se não vejo o dinheiro compartilho o prejuízo!
Cinco pontos na nuca, dor e além de um pouco de sangue, perdera o cabelo. O médico precisava suturar o ferimento com precisão. Não tinha raspado a cabeça nem quando passou no vestibular.
Não se reconheceu na frente do espelho.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Você

Sonhei com você esta noite,
novamente.
Incontáveis noites sonhadas
intermináveis dias não vividos
Não sei mais onde você está
não podes me ouvir, sequer me ler
E, mesmo assim
eu penso em você.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Horizonte

As ideias fogem
O som não é ouvido
Impossível compreender o próprio pensamento
Onde está com a cabeça? alguns podem perguntar
a cabeça não sei, mas os olhos sempre buscam o futuro.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Imensurável

Um semestre passa tão rápido, ou tantas são nossas ocupações que nem o vimos passar. E nisso, detalhes fundamentais passam despercebidos.
Quando não gostamos de uma pessoa, agüentá-la por seis meses é algo que requer paciência. Tempo este também suficiente para marcar a eternidade.
Talvez este período seja curto pra conhecer realmente uma pessoa, saber dos seus sentimentos, seus desejos, sua vida. A menos que essa pessoa seja transparente, ou queira transparecer-se. Porém, afeto e afinidade não possuem medida, escala ou tempo que fará dizer como senti-lo. Simplesmente acontece.
Um fato marcou a minha turma de Farmácia hoje (vinte e quatro de junho). Pra alguns pode ter passado despercebido, mas garanto que mexeu com muitos. Lá no fundo.
Tantas são as formas de amor... todas aquelas velhas máximas conhecidas.
Mas amor alheio é diferente. É quase imperceptível. É bacana, pois demonstra que aquela pequena gota de água em meio ao grande oceano tem o seu valor.
Em um mundo aparentemente tão gelado parece complicado falar de sentimentos, expor o que há de mais profundo nas entranhas, deixar cair lágrimas que remetem a um passado marcante. Isso tudo faz uma pessoa ser especial. Compartilhar esse emaranhado de sentimento com alguém também faz destas pessoas especiais. E honradas.
Não consigo ter noção das dimensões sentimentais do semestre; saber se foi suficiente ou deixou a desejar em algum ponto. Posso apenas dizer que não há nomenclatura anatômica que define o que sai do coração.

domingo, 20 de junho de 2010

Vivemos esperando..

por um gesto de bondade
um carinho
uma ligação
alguém que venha bater na nossa porta.

Um reconhecimento

De mãos atadas
ou não
indo em busca
ou na acomodação

contramão
escravidão
desilusão

..o abstrato
da
felicidade

domingo, 13 de junho de 2010

Desassossego

Caminhava sozinha, pela segunda noite consecutiva (...) a escuridão diminuída pelo postes. Tantas pessoas ali perto, dentro de suas casas, que nada podiam fazer.
Não tinha medo. Receio talvez. Os avisos e conselhos previam o pior - que parecia estar em outro lugar.
Ouvia seus próprios passos, via sua sombra, duplicada, na calçada. Pensamentos desenfreados.
Sentia o frio penetrante. Suas costelas pareciam farpas. Doía.
Os pés queriam caminhar rapidamente, mas a alma não deixava.
Pensava no conforto do lar, nas pessoas que amava, no seu mundo limitado. Não via as pessoas como oportunidades.
Não sabia como as via.
A caneta vermelha que redigia os pensamentos incessantes.
O cobertor quentinho.
O voar na madrugada.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Ele, o tempo.

O tempo. Dominador de atos, ações, vidas. Não somos nada sem ele ao mesmo tempo em que ele nos trai.
Estamos no início - de alguma coisa, que, inclusive, se delimita por ele.
O tempo é quem diz quando começa e quando termina, apesar das nossas vontades, que muitas vezes não são nada pra ele.
Quando a semana está ruim e algo chato aconteceu queremos que o tempo acelere, passe mais rápido, para amenizar o sofrimento, pois como diz a máxima “o tempo cura tudo”. Entretanto, quando algo mágico acontece tentamos parar o tempo. Queremos congelá-lo, guarda-lo num potinho a fim de lembrar pra sempre e fazer do tempo a eternidade da lembrança.
Ele confunde-se em nossos desejos, falhas, acertos.
Nos domina, nos liberta, aniquila.
Se não temos mais tempo não temos mais vida, as chances estão se esgotando.
Será? Que fim? Onde ele está? O tempo realmente diz quando é o fim ou o começo?
Deixamos de viver por não ter tempo. É.
As pessoas passam, não podemos dar um passo atrás e redescobri-la, por que o tempo passou.
Não festejamos, não saímos, não lemos, não estudamos, não vamos a praia, não vivemos - apenas existimos.
Perdemos momentos preciosos. Por culpa dele.
Ele parece escapar por entre os dedos, não nos pertencer mais.
O tempo criou a saudade.
O tempo impõe o ritmo.
O tempo é a vida.




“Sei que as vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?”

domingo, 30 de maio de 2010

A encruzilhada

FarmaContos surge com outra bela interação de colegas em uma aula entendiante.
Agradecimento aos participantes: Arthur, Carol, Kauê e Michele.


Ela acreditava em tudo e pagou por isso. Dar atenção demasiada a opinião alheia só poderia causar destruição. E agora seu único desejo é fazer eles pagarem.
Foi assim que Lara decidiu seguir a estrada de pedra.
Ela procurava por uma encruzilhada. Neste caminho ela certamente os encontraria e faria justiça.
Tudo começou quando ela recebeu o convite para aquela festa a fantasia, a famosa festa das ilusões, como era chamada na universidade.
Nesta festa, todos os jovens mais conhecidos da cidade se encontravam para burlar a lei. Drogas lícitas e ilícitas vistas através de pessoas desconhecidas, pois elas estavam fantasiadas - quase ninguém se reconhecia.
Os olhos de Lara brilharam subitamente, mas não por causa das drogas ou da oportunidade, mas sim por causa daquele fantasiado, que seria a causa do inicio de seu fim. Mesmo sem ver seu rosto ela sabia que era ele.
Lara aproximou-se vagarosamente, seu coração estava acelerado e seus sentidos abalados. Ele estava lindo - de chapéu e suspensório - então toda a euforia só poderia vir por causa dele.
Mas então palavras maldosas chegaram, boatos e intrigas sobre a sexualidade dele a abalaram. Boatos breves, tudo por que ele era tímido e não vivia rodeado de mulheres.
Ela tirou essas dúvidas. A noite tinha sido mágica. Sentiu um acréscimo de estima em si e parecia, enfim, estar numa existência superiormente interessante, onde cada minuto tinha sido diferente e sua alma se cobria de luxo, de diferentes sensações.
Aquele beijo foi inesquecível.
Pena não ter sido em Lara, e sim, na sua melhor amiga, Ginger.
Lara ficou possessa, foi do céu ao inferno em dois segundos. Precisava vingar-se de Ginger, ela estragou seu sonho temporário - de estar mais perto do belo e forte do chapéu.
Mas ele também não era inocente e iria pagar: um plano se formava.
Destarte, Lara espreitou o casal até o final da festa, esperando que seus alvos fossem embora pelo sinistro caminho de pedra. Mas, ela se distraiu e eles seguiram o caminho, quando ela estava quase lá... uma encruzilhada.
Seguir pelo caminho direito ou pelo caminho da sua justiça? esta é a verdadeira dúvida: se vingar para uma falsa satisfação ou se conformar e seguir adiante por um caminho ainda inexplorado, sem garantias e sem perspectivas, apenas a idéia de seguir adiante.

domingo, 23 de maio de 2010

Descontentamento

Aquele grito silencioso que só ela ouvia. Queria espantar aqueles monstros, canalizar toda aquela energia desperdiçada no simples ato de existir.
Não sabia como, com quais ferramentas, com quem.
O ócio passava distante- ao menos deveria- em meio à testes, compromissos e gotas de chuva, que não paravam de cair.
Conformismo e acomodação.
Vergonha? Só a alheia...
Em meio à idas e vindas, novas respostas, descobertas e considerações.
Escrever para libertar-se, por um momento de vida menos inútil e medíocre.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Incógnitas I

O que nos trás felicidade são atos ou atitudes ou circunstancias que nos fazem esquecer de tudo?
Um momento de distração em que você não pensa em nada além do que ali está.
Quase como um universo paralelo, onde a sua concentração está toda focada no ali, no agora - por mais que não pareça, momentaneamente, importante.
Depois você percebe a importância, e, com ela vem o contentamento.

E aí?

terça-feira, 18 de maio de 2010

Um bom texto de Everson Fernandes (http://www.myownbomb.blogspot.com), acadêmico de Direito. Pediu um espacinho aqui, então aí vai:



Nas décadas de 60 e 70, o Brasil viveu um período de regime autoritário: a ditadura militar. Nesse contexto, milhares de pessoas foram às ruas em protestos nos quais muitos acabavam presos, torturados, expulsos do país e até mortos. Submetiam-se a isso em busca de algo maior, para o bem geral: a liberdade.
Passados os anos, chegamos na atualidade. Hoje vivemos uma sensação de liberdade, mas não somos livres de fato. A ditadura militar, para muitos, se tornou só mais um capítulo na História do Brasil e apenas preenche o cronograma escolar da disciplina. Esquecem que um dia alguém lutou por um futuro melhor para nós.
Tais “mártires” ou heróis não imaginavam como as próximas gerações usufruiriam dessa liberdade (quando falo em liberdade, não falo do sentido pleno da palavra, até porque o homem teria que evoluir muito para conseguir viver em tal estado). Não imaginavam como os jovens desenvolveriam uma certa ojeriza por política; assunto que hoje é para poucos. São poucos que se interessam em reivindicar seus direitos e agirem como cidadãos.
No universo musical, o quão decepcionado estaria Geraldo Vandré, que quando cantava “vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer [...] Somos todos soldados armados ou não” instigara uma multidão a se pôr de pé e lutar. Hoje nos empurram aos ouvidos uma enchente de músicas fúteis, que de nada falam.
O slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o” [ou seja convidado a deixá-lo] hoje certamente ainda faria algumas pessoas rumarem em direção a outros países, mesmo concordando que nos últimos anos os brasileiros têm elevado sua auto-estima. O orgulho nacional – o patriotismo - que deveria ser o sentimento mor de um cidadão, só aparece quando se trata de futebol ou carnaval.
Não seria necessário dizer que ser patriota é estar conformado com a situação do país; é, pelo contrário, lutar pela melhora do mesmo. A falta de patriotismo, talvez, seja o maior sinônimo para o conformismo. Como eu mesmo digo: cidadão bom é aquele que nunca está satisfeito.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

esGOTAmento

Na quarta-feira também tem aula de Física :P

De uma torneira caem gotas, do céu cai a chuva e dos olhos de Érika caiam as lágrimas.
Lágrimas de extrema alegria, pelos acontecimentos, realizações.
A felicidade está nos detalhes - de uma amizade, a qual Érika se dedicou totalmente.
Ela tinha um amigo gay, o Raul. Eles se divertiam justos. A amizade era colorida e inabalável, até o surgimento de Alejandro.
Com o surgimento dele, Raul só tinha tempo para idolatrá-lo. Tudo era Alejandro. Érika sentiu-se sozinha, perdida. A opção sexual do amigo nunca havia atrapalhado a amizade deles.
Até que tudo mudou. Alejandro introduziu Raul no mundo das drogas.
Raul, em uma de suas “bad trips” atirou uma faca em Érika, no entanto atingiu alejandro diretamente na testa, perfurando o frontal e atingindo o cérebro.
Alejandro soltou um grito de dor e caiu sobre os pés de Érika. O sangue escorria pelo chão, sujando a sala da casa.
Ele desesperou-se, não tinha noção da proporção de seus atos falhos e do ocorrido.
Após atendimento médico, foi constatado que Alejandro teve amnésia aguda. Não lembrava de mais anda, apagou tudo.
Ao acordar no hospital reparou naqueles olhos azuis, cabelos longos, pele delicada..não conhecia nada mais bonito, sua segunda primeira lembrança era deslumbrante.
Raul correu ao seu encontro, feliz por seu amigo estar vivo. Mas, Alejandro parecia hipnotizado por Érika, não via mais nada a seu redor.
Então, a polícia chega ao quarto do hospital para investigar o ocorrido. Érika se desespera, tenta inventar uma historia para livrar seu amigo da prisão, mas o policial não se convence, e, então Raul é levado pelo policial.
Sozinho na cela, ele reflete sobre sua cronologia de vida, rasga os lençóis da sua cama, trança-os, amarra no gancho do canto da cela e enlaça.
Com o lençol no pescoço, sobre numa cadeira, e, sua vida toda passa como um flash em sua mente.
A cadeira cai, o laço se aperta e mais nada importa- apenas o som na cela, de uma torneira que caem gotas...


FIM


Créditos: Alisson, Alessandra, Arthur, Carol e Michele :D sem vcs, as aulas e o blog não seriam os mesmos!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Do ócio à criatividade

Aula de Física útil e agradável, colegas dispostos a soltarem suas palavras numa folha de papel. O resultado tá aí:


Luíza
pequena
queria um
marujo tranqueira
mas de bom coração para poder se divertir
É uma pena que o marujo estava com a perna quebrada e não pode casar-se com a princesa Alice.
Nada mais seria perfeito na casinha de bonecas...
Pra ela o tempo passou, mas o marujo continuou ali, imóvel, inquieto e tão frio. Mas ele não contava com a astúcia de Alice, que quando surgiu oportunidade aproveitou e chamou a amiga Rapunzel para um papo e falar sobre a relação com o marujo coxo.
Será que tudo na vida dos dois seria de altos e baixos?
Talves tudo seja devaneios de sua mente e princípios de loucura. Poderia ser, mas algo como lágrimas solitárias escorriam sobre o rosto de Alice.
Lágrimas que caíam ao lembrar do passado, toda aquela nostalgia.. Havia incertezas de que aquela era a vida que sonhara. A depressão do momento seria devido a ausência de amor verdadeiro? Ou seria devido a impossibilidade da realização de um sonho?
Sonhos?
O marujo estava ali, tão perto e também tão longe dela.
Seis horas. Chegara a hora de deixar o marujo, a amiga Rapunzel e o sentimentalismo no texto da peça de teatro e assumir sua verdadeira identidade- apesar de a vida real misturar-se com a ficção.
Atriz talentosa e bem sucedida, mas, infeliz no amor.
Sonhava com aquele marinheiro que ficou naquele porto..
Ela fez sua escolha, preferiu ela á ele.
Precisava continuar sua rotina e esquecer o marujo. Porém, não conseguia continuar sua vida. Passava dias e noites imaginando como seria a vida com o marujo w foi se perdendo em seus pensamentos, chegando a beira da insanidade.
Ficção e realidade. Ela estava cada dia mais confusa. Tudo tão semelhante e ela temia tanto isso...
Realidade e ficção misturadas, mas se a ficção se concretizasse o fim seria inevitável.
Porque não viver nos sonhos? Acreditar que o melhor pode sempre acontecer, que o marujo estaria ali quando precisasse de ombros fortes para suportar o peso da realidade.

FIM



Créditos: Michele, Alisson e Carol, que participaram com muita criatividade :D
e aos outros colegas, pela ânsia em ler nosso primeiro texto!

domingo, 25 de abril de 2010

Indiferente

Lembrou que estava vivo ao ouvir seus próprios passos enquanto descia as escadas.
Vivia da rotina, dos dias perfeitamente calculados. O destino não lhe dava trégua, fazia tudo acontecer do mesmo jeito –como o programado- todos os dias. Nenhum incidente, mudança repentina. Nem susto tomava.
Era sexta-feira. O dia acordara nublado, com cara de ressaca. Ao sair de casa, um gato preto cruzou seu caminho.Perdera a fé em praticamente tudo, portanto não existia sorte ou azar, muito menos superstição. Apenas um gato preto. Poderia ter sido qualquer outro animal.
Não tinha relacionamentos. Falava apenas o necessário com os colegas de trabalho. Os vizinhos não sabiam seu nome.
Sem revoltas, comoção ou apego. Não se questionava. Vivia no modo “automático”.
Sabia que hoje não é ontem pois todos os dias arrancava a folhinha do calendário que ficava em cima de sua mesa no trabalho. Era a primeira coisa que fazia ao chegar. Assim, não se perdia no tempo. Ontem era nove e hoje é dez. Os dias tinham apenas diferença numérica.
Extravagância era algo desconhecido.
Caminhava pelas prateleiras do supermercado, que, aliás, havia decorado o lugar dos produtos. Sempre comprava os mesmos. Deparou-se com a sessão das bebidas. Não conhecia o gosto de nenhuma. Sem experiências alcoólicas, como escolher uma adequada?
Sentou-se no sofá de casa e começou a beber o vinho quente. As pernas começaram a amolecer, o rosto ficava cada vez mais rosado. Surgiram pensamentos delirantes, escabrosos. A ficção dos pensamentos misturava-se com a acomodação daquela vida, daquela casa. Olhava seus móveis e objetos. Os livros devidamente alinhados na estante, as almofadas arrumadas uma a uma no sofá. E pensamentos soltos, confusos, delirantes.
Quem eram aquelas pessoas? Como surgiram? Estavam ali mesmo ou era seu passado trazendo nostalgia?
Acordou com os raios de sol que entravam pela janela. Dormira no sofá. A garrafa vazia, caída no chão.
Sem noção das horas, de qual dia era. Precisava sair pro trabalho?
Não sabia quem era.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

;

A vírgula perguntou ao ponto se ele não cansava de ser final. Ele, sorridente, disse que poderia ser também exclamação(!), causar dúvida(?) ou ser um trigêmeo subentendido(...)
Não satisfeita, ela se dizia mais feliz - prolongava o que era bom, separava o desnecessário, e não dava fim a ninguém.
O ponto disse que depois do fim logo vinha um recomeço, como num ciclo.
Para contentar a todos, o ponto se juntou a vírgula(;), tendo que, para isso, dar as devidas explicações!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Relógio

Sou refém do tempo,
viciada nos ponteiros.
Atrasada e pontual
Ele não mostra nada
nem o que está passando
nem o que já foi.
Que horas marcam no meu relógio?

segunda-feira, 15 de março de 2010

Amaria

Dona Maria
aquela senhora sozinha,
em seu jardim.

Tulipas, orquídeas e camélias
todo o cuidado e dedicação.
A senhora de coração vazio
passou a vida inteira pensando
que ninguém a amaria

Alguém a amou
Alguém amou Maria
No silencio, nas entrelinhas
sem que ninguém soubesse
que ele a amaria

Para a vida toda

Violetas, Rosas, Margaridas
Entre tantas flores e nomes
ele escolheu a Maria.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Deficiência cultural

Usarei uma pecinha loira e contemporânea para exemplificar minha crítica. Nada pessoal, até por que, eu atiraria no próprio pé ao falar mal dele.
Por ser a capital do Estado, Florianópolis deveria oferecer mais cultura. Sei que nesta ilha há muita gente que luta - para aproximar a literatura do povo, para que música seja ouvida, sentida, para que peças de teatro sejam vistas. Mas o esforço não é suficiente.
Ontem (09/03/2010), Humberto Gessinger do (ex) Engenheiros do Hawaai esteve num dos shoppings da cidade, para uma pequena apresentação musical seguida de uma sessão de autógrafos do seu novo livro( Pra ser sincero)
O local estava lotado. Pessoas em todos os andares, esforçando-se para ver uma pontinha do cantor, tentando registrar o momento com uma fotografia.
A livraria onde ocorreu a sessão de autógrafos nunca estivera tão cheia.
Grande maioria das pessoas que aguardavam na fila por um autógrafos eram jovens, que se pisoteavam educadamente. Muitos estavam numa loja de livros pela primeira vez, afirmando seu lado capitalista despertado pelo loiro gaúcho, outros entraram ali “por causa do movimento”.
A vinda do Humberto foi um pequeno deleite para os fãs. E se ele viesse uma vez por mês à livraria? Durante quantos meses a lotação continuaria?
A euforia vem da falta. Não quero questionar a quantidade, muito menos a qualidade, dos fãs do Humberto, e sim, meu espanto com a falta de eventos culturais por aqui.

Como ter uma cidade mais cultural? Valorizar o que temos e lutar por mais?
A culpa da deficiência cultural é de alguém?





Pela qualidade, dá pra ver que a foto foi tirada por mim. E, no dia em que eu consegui a foto, teve ciclone em Floripa. (!)
"Nem tão longe que eu não possa ver. Nem tão perto que eu possa tocar."

Parênteses

Não sei quando vou aprender.. a esperar menos das pessoas, em pensar que farão sacrifícios necessários para o bom convívio, a lembrar- nos momentos de raiva- que a imperfeição está aí, livre, leve e solta.
Sinto-me babaca por atitudes alheias. E não deveria ser assim...
Paciência é uma virtude.
A verdadeira prova de amizade está na tolerância?



“..assim você me perder e eu perco você, como um barco perde o rumo, como uma árvore no outono perde a cor."

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sepulcral

Eram sete horas, ela girou a torneira, pendurou a toalha e escolheu um sabonete de erva doce. Trancou a porta, apesar de não ter ninguém em casa, era um hábito - como se fosse um isolamento.
Colocou a mão na água, sentiu que a temperatura estava ideal. Molhou primeiramente os pés, foi sentando vagarosamente.
Parou e ficou ali parada, com a água na direção do peito. Olhava para o nada.
A banheira era uma espécie de divã. Gostava de ficar ali, pensando na vida, ou não pensando em nada, enquanto os dedos ficavam murchos.
O silêncio sepulcral tomava conta do banheiro, e de toda a casa.
Ela olhou para a tomada, para o secador de cabelo e para a lamina de barbear.
Pensava na dor. Na falta e no excesso.
Até que o silencio foi interrompido pelos chamados de sua filha, clamando pela mãe, que acabara de entrar em casa.
Saiu rapidamente da água, tirou a tampa do ralo, vestiu a roupa e foi logo ao encontro da menina, que resolvera desculpar a mãe e voltara para o lar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Vinte e três primaveras.

Hoje, especialmente, não usarei falsas palavras pra demonstrar uma alegria profundamente amarga.
Escrevo pra dizer que não esqueci, por que tem coisa que não se esquece- por mais difícil que seja.
No fim, "nada mais importa".




"Sleight of hand and twist of fate/on a bed of nails she makes me wait/and I wait without you"

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

As luas de janeiro

Não há dúvidas de que a lua possui uma beleza incomum, privilegiada, encantadora. Especialmente a cheia.
Lembro daquela sexta-feira de janeiro – calor, começo de noite, aquela lua gigante, que mais parecia um sol, amarelada assim que surgiu. Durante todo o trajeto até a praia ela nos acompanhou no céu. Visão privilegiada - parecia que estávamos indo até ela. Esse dia (noite?) ficou marcado na lembrança.

Tempo decorrido, mês de janeiro, 2010. Sábado.
Lua cheia. Linda, grande e amarelada, como naquele outro dia.
A noite chega, ela vai ficando branquinha, e ilumina a escuridão. A nossa escuridão. É sensacional olhar as horas no relógio de ponteiro à noite, na praia, com a iluminação do luar.

As luas (cheias) de janeiro marcam, impressionam, e me fazem refletir sobre a grandeza da vida, sobre o desconhecido.
A imensidão e o nada.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Escuro

Sensações estranhas. Pesadelos constantes.

Medo do futuro, do amanhã e do que ainda resta do dia de hoje.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Normal é ser casal

No tempo da vovó namorava-se no sofá de casa, com o pai da moça ao lado, de cara amarrada, repreendendo. As intenções do futuro esposo, por que namorar era sinônimo de casar, precisavam ser explícitas. Precisava de muito jogo de cintura para driblar o pai, e muitas vezes o irmão ciumento, pra depois pegar na MÂO da moça, que passava longas tardes a bordar seu enxoval, sonhando com a futura vida ao lado do seu homem.
Com a revolução feminina muitos dogmas foram derrubados. A mulher foi descobrindo seus potencias, deixando de lado o bordado e os serviços domésticos, para ter um emprego,uma dupla rotina de trabalho- pois cabe a ela a responsabilidade de cuidar da casa e da família.
Em meio a tantas mudanças, os relacionamentos também se atualizaram. Com a mulher independe, veio à tona a vida de mãe solteira, a mulher realizada profissionalmente que não teve tempo de pensar em filhos e família,e quando casada, tem um marido submisso, que obedece suas ordens, que vê a mulher, com maestria, dar conta do recado. Ainda assim, a relação entre um homem e uma mulher é comum.
Nos tempos da netinha ( daquela vovó submissa que suspirava de amor), é a princesa encantada que a faz perder a cabeça, e não o príncipe. Sim, meninas gostam de meninas, e meninos de meninos. Gay não tem cara. Aquele rapaz de chamou atenção de você mulher, por ser bonito e sensual, está pensando no bof que o aguarda em casa pro jantar. Casais homossexuais moram juntos, tem filhos, são um casal.

A sociedade perdeu os escrúpulos? Acredito que não, pois se tudo evolui, os relacionamentos não poderiam ser como no passado.
O dicionário me diz que casal é: 1- Conjunto de macho e fêmea. = PAR, 2-Marido e mulher, 3- Conjunto de duas pessoas que têm uma relação sentimental e/ou sexual.
Fico com o numero 3, e com a felicidade. Vejo um casal de amigos meus, gays, que vivem em perfeita harmonia, felizes da vida. Adianta ter uma relação antiga, com marido, mulher e filhos e morrer de tristeza, muitas vezes por não ter coragem de assumir sua real posição quanto ao sexo?
Que os casais se respeitem e sejam felizes, independente de quem estiver ao lado, pois apesar de tudo, normal é ser casal.

O início..

A ideia do blog me persegue a algum tempo, hoje criei coragem e aqui estou! para mostrar minhas palavras humildes e sinceras, minhas críticas, e um pouco dessa minha vida- que é uma incógnita.
Críticas construtivas serão bem vindas, assim como sua leitura anônima.

Começarei com um texto já publicado no http://recantodasletras.uol.com.br/

:]