O lápis e o garfo conversavam. Em tempos de eleição até eles falavam de assuntos ligados a sociedade.
- O que seria dos estudantes se não fosse a escola, a educação, e eu(!) por tabela?diz o lápis
- Ninguém aprende de barriga vazia. Se não há comida não tem como, meu querido.
Todo o resto fica em segundo plano. afirma o lápis.
- Então quer dizer que você pensa que um prato de comida é o suficiente? Que os problemas serão resolvidos se fosse tiver o que comer?
- Suficiente sim. Claro que não somente isso. Mas sem isso o que seria?
- E sem educação, o que seria?
- Seria irracional. Sem um futuro digno, se posso dizer assim..
- Como animais. Que vivem, ou melhor, sobrevivem tendo o que comer apenas. Se bem que tem muita gente por aí que..
- Lápis, você é o “alimento” da inteligência. Eu sou o alimento físico.
- Ninguém vive sem a gente, falou o lápis.
- Sem você até vai, agora sem mim..
- Ah não! Novamente essa discussão de importâncias. Você é um cabeça dura!
- Se nem os seres humanos, racionais, entram em acordo como nós, meros objetos criaremos um novo dogma social ‘alimento-educacional - você depende disso!’
- Que acomodado, garfo!
- Você quer discutir infinitamente, é isso? Por que não simplesmente aceita o fato de sermos usados..
- Mesmo que eu quisesse mudar algo, me sacrificar por um bem maior, o apontador não concordaria com minha intenção suicida-salvadora.
- Olhe por outro ângulo. Somos indispensáveis. Como viver sem ter o que comer e sem o mínimo de educação? Poderíamos ser como o cartão de crédito que faz muitos se endividar, ficarem depressivos, compulsivos ou muitas vezes somente ficar esquecido dentro de uma carteira. Somos fundamentais..
- Ou se fossemos como a bebida, que pode causar tanta destruição se não for usada com moderação. Ela pode ajudar as pessoas a esquecer dos problemas por alguns instantes, mas causará algum sintoma negativo depois. Já se alguém me usar em demasia o máximo que pode ter é uma congestão.
Risos (!)
- Gosto do fato de sermos indispensáveis. Pensando assim, até parece mais fácil, diz o lápis. Mesmo não sendo..
- Basta que nos usem. Somos a primeira ferramenta de uma mudança comportamental humana que não podemos começar sozinhos.
- Será?
domingo, 24 de outubro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Nunca tem ninguém conhecido no ônibus ao lado
Ela pegava o mesmo ônibus todos os dias, no mesmo ponto, não na mesma hora, pois ele se atrasava de vez em quando - o trânsito podia transforma-se no caos a qualquer hora do dia. E, como em todos os outros dias a esperança vinha com o ônibus.
Sempre sonhou com uma vida melhor, um emprego mais bem remunerado, uma reforma na casa, roupas mais bonitas. Mas não era do tipo que reclamava, ao contrário, contentava-se com o que tinha e fazia questão de agradecer a Deus todos os dias.
Estava usando botas bem fechadas, por cima da calça chegando até metade da canela. E também um lenço no pescoço xadrez afim de proteger o pescoço. Qualquer ventinho era suficiente para fazer sua garganta doer. Nos lábios, baton rosa claro, a cor da moda.
Não necessitava de boas vestes e de assessórios para designar o seu trabalho, mas sempre procurava arrumar-se, de uma maneira não muito chamativa. Gostava de uma boa aparência.
165. O ônibus vinha apressadamente cortando o horizonte.
Vai até a beira da calçada e faz sinal com a mão para que o ônibus pare.
Quando ele se aproxima, passa por cima de uma poça d’água, acumulada pela chuva da noite anterior, e a respinga. Nas pernas.
Por sorte não havia barro mas agora sua calça e suas botas estavam molhadas.
Não podia mais sentir o seu cheiro, de banho tomado com sabonete de erva doce, sentia apenas o odor da água da poça. Por menor que fosse o cheiro.
Estava com raiva, e com vergonha. O motorista nem pra pedir desculpas. “Essas coisas só acontecem comigo!” resmungava durante o trajeto. “Maldita poça.”
A luz amarela pisca e o vermelho dominador faz com que os carros, e os ônibus, parem do semáforo.
Ela olha pela janela e vê um ônibus aproximar-se do seu para também parar. “Nunca vejo ninguém conhecido parado no ônibus do lado” pensou com seus botões.
De repente alguém no outro ônibus abana, dá tchau com a mão. Também sorria. Parecia olhar na sua direção, já que o seu ônibus não estava muito cheio e as pessoas dali não pareciam olhar naquela direção.
Olha novamente e vê o abano, incessante. E um sorriso daquele de mostrar todos os dentes. “Será que é pra mim?”
Chega a vez do verde e o ônibus acelera.Ela levanta-se, puxa a cordinha pois era chegada a hora de saltar.
Desce do ônibus sem olhar pros lados. Sem saber o motivo, queria evitar aquele ônibus que estava ao lado.
Caminha alguns passos na rua quando depara-se com um bilhete colado num poste: ‘bom dia, água do dia.”
Sempre sonhou com uma vida melhor, um emprego mais bem remunerado, uma reforma na casa, roupas mais bonitas. Mas não era do tipo que reclamava, ao contrário, contentava-se com o que tinha e fazia questão de agradecer a Deus todos os dias.
Estava usando botas bem fechadas, por cima da calça chegando até metade da canela. E também um lenço no pescoço xadrez afim de proteger o pescoço. Qualquer ventinho era suficiente para fazer sua garganta doer. Nos lábios, baton rosa claro, a cor da moda.
Não necessitava de boas vestes e de assessórios para designar o seu trabalho, mas sempre procurava arrumar-se, de uma maneira não muito chamativa. Gostava de uma boa aparência.
165. O ônibus vinha apressadamente cortando o horizonte.
Vai até a beira da calçada e faz sinal com a mão para que o ônibus pare.
Quando ele se aproxima, passa por cima de uma poça d’água, acumulada pela chuva da noite anterior, e a respinga. Nas pernas.
Por sorte não havia barro mas agora sua calça e suas botas estavam molhadas.
Não podia mais sentir o seu cheiro, de banho tomado com sabonete de erva doce, sentia apenas o odor da água da poça. Por menor que fosse o cheiro.
Estava com raiva, e com vergonha. O motorista nem pra pedir desculpas. “Essas coisas só acontecem comigo!” resmungava durante o trajeto. “Maldita poça.”
A luz amarela pisca e o vermelho dominador faz com que os carros, e os ônibus, parem do semáforo.
Ela olha pela janela e vê um ônibus aproximar-se do seu para também parar. “Nunca vejo ninguém conhecido parado no ônibus do lado” pensou com seus botões.
De repente alguém no outro ônibus abana, dá tchau com a mão. Também sorria. Parecia olhar na sua direção, já que o seu ônibus não estava muito cheio e as pessoas dali não pareciam olhar naquela direção.
Olha novamente e vê o abano, incessante. E um sorriso daquele de mostrar todos os dentes. “Será que é pra mim?”
Chega a vez do verde e o ônibus acelera.Ela levanta-se, puxa a cordinha pois era chegada a hora de saltar.
Desce do ônibus sem olhar pros lados. Sem saber o motivo, queria evitar aquele ônibus que estava ao lado.
Caminha alguns passos na rua quando depara-se com um bilhete colado num poste: ‘bom dia, água do dia.”
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